Módulo I - Definindo Empatia
Outros Conceitos
É importante diferenciar empatia de conceitos como simpatia, contágio emocional e compaixão. Autores como Batson [1] estudam diversos fenômenos psíquicos que podem estar contidos na palavra Empatia. De outra parte, De Waal [2] demonstra que a empatia abrange um conjunto de conceitos.
Batson [1], ao tentar responder duas questões sobre empatia (como conhecemos os pensamentos e sentimentos do outro? e o que leva uma pessoa a responder com sensibilidade e cuidado ao sofrimento do outro?) descreve oito formas de como o termo pode ser conceituado: Empatia é…
- … conhecer o estado interno de outra pessoa, incluindo seus pensamentos e sentimentos;
- … adotar a postura ou combinar as respostas neurais do outro;
- … sentir como o outro se sente;
- … intuir ou projetar-se na situação do outro;
- … imaginar como o outro está pensando e sentindo;
- … imaginar como alguém pensaria e se sentiria no lugar do outro;
- … sentir angústia ao testemunhar o sofrimento do outro; e
- … sentir por outra pessoa o que ela está sofrendo.
As definições de 1 a 6 tentam responder à questão como conhecemos os pensamentos e sentimentos do outro. Já as 7 e 8 procuram entender o que leva uma pessoa a responder com sensibilidade e cuidado ao sofrimento do outro. Assim, essas questões e as oito definições mostram a complexidade do conceito de empatia.
O primatólogo De Waal [2] tem uma visão bottom-up da empatia e a explica através da biologia. Segundo o autor, a empatia possui uma história evolutiva. Ao estudar chimpanzés, o autor apontou que a gênese da empatia está associada à identificação e ao pertencimento a um grupo. Ou seja, seus processos e mecanismos podem favorecer a cooperação [3]. Visando, então, explicar os elementos vinculados aos processos da empatia, De Wall [2] utilizou a metáfora da Matriosca (boneca russa) para representar a interação de processos e elementos na produção da empatia. Para o autor, o desenvolvimento da empatia ocorre na inter-relação de camadas. As mais internas referem-se aos processos socioafetivos mais primitivos e inatos, enquanto as camadas mais externas dependem da aprendizagem e funcionamento pré-frontal do cérebro.
O núcleo da empatia, ou seja, a forma mais primitiva de empatia, é o contágio emocional. Esse fenômeno necessita do Mecanismo de Percepção-Ação (PAM, sigla em inglês). PAM é definido como sendo composto por representações neurais automáticas e inconscientes que são ativadas quando da percepção de estados do outro que se assemelham aos que nós conhecemos [2].
De fato, as pesquisas mais recentes em neurociência sugerem as bases neurofisiológicas a respeito da empatia. Pesquisadores da Universidade de Parma, na Itália, foram os primeiros a relatar a descoberta de uma classe de células cerebrais denominadas "neurônios-espelho" [4] que funcionam como se fossem "fios invisíveis" [5] durante a conexão entre as pessoas. Esses neurônios são responsáveis, no ponto de vista cognitivo, social e afetivo por ajudar a reconhecer as ações e compreender as motivações do outro.
Em termos etimológicos, os prefixos gregos syn- (com ou junto) e em- (em ou dentro) tornam clara a diferença de empatia e simpatia. Sentir-com (simpatia) há um compartilhamento ou uma transferência imediata de sentimentos entre duas pessoas. Por outra parte, sentir-em (empatia) há uma diferenciação entre o eu e o outro, onde o eu entra em contato com o sentimento do outro ciente da diferença entre os dois [5]. Isto é, a empatia é a compreensão das emoções de outra pessoa através da tomada de perspectiva do eu. A simpatia não diferencia o eu do outro.
O contágio emocional é a tendêcia pessoal de mimetizar e sincronizar expressões faciais e corporais, vocalizações faladas e cantadas, posturas e movimentos de outra pessoa de modo a convergir emocionalmente [6]. É caracterizado por ser uma transpatia; ou seja, uma pessoa é “infectada” pelas emoções e sentimentos de outra.
Já a compaixão (ou compatia) é a vivência de ser tocado pelos processos mentais e emocionais do outro. Na alegria, alegra-se junto; no sofrimento, sofre-se junto [7].
[1] BATSON, C. D. (2011) These Things Called Empathy: Eight Related but Distinct Phenomena, in Jean Decety, and William Ickes (eds), The Social Neuroscience of Empathy (Cambridge, MA, 2009; online edn, MIT Press Scholarship Online, 22 Aug. 2013)
[2] DE WAAL, F. B. M. (2009). The age of empathy: nature’s lessons for kinder society. 1st ed. New York:Three Rivers Press.
[3] MENDONÇA, J. S. (2022). Da intersubjetividade à empatia: em busca das raízes da cooperação. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 73(2).
[4] GALLESE, V., FADIGA, L., FOGASSI, L., & RIZZOLATTI, G. (1996). Action recognition in the premotor cortex. Brain, 119(2), 593-609.
[5] TASSINARI, M.; DURANGE, W. (2019). Neurônio da empatia: os fios invisíveis da conectividade humana. In: Empatia: a capacidade de dar luz à dignidade humana. Tassinari, M.; Durange, W. (Orgs.). Curitiba: CRV.
[6] HATFIELD, E.; CACIOPPO, J. T.; RAPSON, R.L. Emotional contagion.Current Directions in Psychological Science, 2, 96-99.1993.
[7] DORSCH, F.; HÄCKER, H.; STAPF, K.H. Dicionário de psicologia Dorsch. LEÃO, E.C. (Trad.). Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.