Módulo II - Sujeito Empático

O Sujeito e Suas Dimensões

Piaget [1][2] caracteriza o indivíduo em dois grandes sistemas complementares: um voltado essencialmente para a “compreensão” do real; outro para o “ter êxito” ou para satisfazer necessidades. O primeiro é conhecido como sujeito epistêmico; o segundo, como sujeito psicológico. O autor concentrou estudos no sujeito epistêmico, ou naquele que, para compreender o mundo, se constroi em eternas desequilibrações e equilibrações através das abstrações reflexionantes [3]. Isto é, ao agir, o indivíduo apropria-se da própria ação e de seus mecanismos, constrói conhecimento e constitui sua capacidade cognitiva. Isso significa que o sujeito epistêmico (ou do conhecimento) não é inato ou herdado geneticamente, como também não é resultado das pressões do meio social ou da cultura que o indivíduo vive [4].

Por outro lado, o sujeito psicológico é caracterizado pelo o que é particular ao indivíduo. O indivíduo é, portanto, compreendido na sua totalidade e complexidade. É aquele cujas características pessoais e exclusivas (sentimentos, emoções, formas de pensamento, modos de agir, etc.) adquirem relevância [5].

Dolle [6] parte dos estudos sobre a interação desenvolvidos por Piaget para conceber uma representação do sujeito psicológico, “enquanto sujeito complexo em interação complexa com o meio” [6; p.14]. Em cada meio há “algo de particular e original por causa das pessoas e objetos” [6; p.37]. Assim, o meio constitui um sistema de relações formado por indivíduos, objetos e regras. Todo indivíduo interage com o conjunto de sujeitos epistêmicos e psicológicos dos participantes do mesmo meio.

O sujeito psicológico é dividido em quatro sujeitos (dimensões ou subsistemas), cada um com sua especificidade e interrelacionado aos demais, conforme ilustrado na figura:

Diagrama do Sujeito Psicológico
  • Sujeito biofisiológico, ou tudo o que diz respeito ao corpo, isto é, todas as funções biológicas e fisiológicas (genética, neurologia, neurobiologia, bioquímica, etc.). Da sua integridade estrutural e funcional depende a integridade estrutural e funcional dos demais. Esse sujeito fornece a base de constituição e existência dos outros sujeitos.
  • Sujeito cognitivo, que, enquanto age, adquire conhecimentos sobre si e sobre o meio. Diz respeito à aquisição, conservação e gestão dos conhecimentos. É o que Piaget se esforçou em estudar e formalizar (sujeito epistêmico).
  • Sujeito afetivo, de onde parte a energética que impele o sujeito psicológico para determinada ação e é quem recebe as impressões desta ação sob a forma de emoções, sentimentos ou efeitos das relações estabelecidas. A repercussão dos efeitos produzidos pelo meio, pela situação e pela circunstância “vai contribuir para colorir, formar e modelar a personalidade” [6; p. 49].
  • Sujeito social, que compreende a interiorização dos hábitos, das regras e dos interditos sociais. As regras abrangem tudo o que organiza as maneiras de fazer, ser e pensar.

[1] PIAGET, J. (1985) O possível e necessário. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

[2] PIAGET, J., & GRÉCO, P. (1974). Aprendizagem e Conhecimento (1st ed.). Rio de Janeiro, RJ: Freitas Bastos.

[3] PIAGET, J. (1995) Abstração reflexionante: relações lógico-aritméticas e ordem das relações espaciais (Trad.: Becker, F. & Silva, P.B.G.). Porto Alegre: Artes Médicas.

[4] BECKER, F. (1999) O sujeito do conhecimento – contribuições da Epistemologia Genética. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 24, n. 1, p. 73- 88.

[5] SILVA, J. A. (2009) O sujeito psicológico e o tempo da Aprendizagem. Cadernos de Educação, v.32, Pelotas: FaE/PPGE/UFPel, Jan./Abr. p. 229 – 250.

[6] DOLLE, J. M. (1993) Para além de Freud a Piaget: referenciais para novas perspectivas em psicologia. Petrópolis, RJ: Vozes.

@NUTED/UFRGS

Creative Commons BY + NC + ND

Elaborado por Magalí T. Longhi