Módulo I -Definindo Empatia

O que é Empatia

No senso comum, ser empático significa a capacidade de um indivíduo poder se colocar no lugar do outro e experimentar eventos e emoções da forma como ele os vivencia [1]. A expressão “colocar-se no lugar do outro” populariza o “conceito” de empatia e, embora denote uma aparente simplicidade, contém muita complexidade podendo gerar interpretações errôneas [2].

Na literatura, a empatia é abordada sob diferentes perspectivas de estudo (Psicologia Cognitiva, Psicologia Comportamental, Psicologia Social, Neurociência, etc.) e aplicada e incentivada em diversas atividades: marketing, economia, enfermagem, serviço social, psicologia, vendas e pedagogia. Em relação a esta última atividade, percebe-se haver pouca (e, em muitas áreas, nenhuma) discussão sobre a importância da construção da competência socioafetiva empatia nos estudantes do ensino superior, independentemente da área do conhecimento. Acredita-se que o incentivo para uma comunicação e ações mais empáticas durante a vida universitária fará com que o estudante tenha potencial para reproduzir a competência nas relações de trabalho e na sociedade.

Titchener [3] cunhou o termo empatia a partir de Einfühlung (“sentimento em”). A palavra em alemão denota o modo como um espectador compreende a arte; não importando se figurativa ou abstrata, o objetivo é de evocar os sentimentos do autor quando da construção da obra. Então, Titchener entendeu que a empatia, diferente de simpatia, considera a capacidade de uma pessoa experimentar situações de outra pessoa como forma de compreender o outro e a si mesma.

Em termos psicológicos, a empatia é a capacidade de identificar o que outra pessoa está pensando ou sentindo e de responder aos seus pensamentos e sentimentos com uma emoção apropriada [4]. Ao perceber o sentimento (seu e do outro) envolto em um diálogo (falado ou escrito) numa determinada situação, o indivíduo depara-se com um rol de emoções (repertório empático) importante na tomada de decisões e no auxílio ao outro. Rogers [5] afirmou que se o indivíduo for capaz de assumir uma atitude empática, ele terá em mãos uma força propulsora de crescimento pessoal e de mudanças. Para o autor, a empatia é a capacidade do indivíduo perceber o quadro interno de referência do outro, levando em conta os seus próprios componentes emocionais e significados como se fosse a pessoa, mas sem jamais perder a condição do ‘como se’ [6]. Isto é, o quadro interno de referência significa o mundo subjetivo do indivíduo. Contém as experiências emocionais de vida. Inclui uma gama de sensações, percepções, significados e memórias que estão disponíveis para a consciência. O quadro é conhecido apenas pelo indivíduo. Nunca o será por outra pessoa, exceto através de inferência empática.

A neurociência demonstra, em termos biofisiológicos, que a empatia é sustentada por circuitos neuronais [7]. Ela reflete uma capacidade inata de perceber e ser sensível aos estados emocionais dos outros, sem se descuidar de seu próprio bem-estar. Isto é, a empatia requer habilidades cognitivas (tais como funções executivas, compreensão, conscientização e linguagem) bem como a capacidade de diferenciar os estados mentais (sensações, crenças, desejos, emoções, afetos, sentimentos, percepções, imaginações, memórias e julgamentos) da outra pessoa dos de si. Ao ter em conta esses fundamentos, pressupõe-se que a empatia pode ser vista como uma resposta à questão de como podemos conhecer melhor outras pessoas. Ou seja, dado que só temos acesso perceptivo ao "exterior" visível de outra pessoa, só podemos saber o que o outro sujeito sente "por dentro" devido às nossas capacidades empáticas. De acordo com essa visão, então, a empatia é uma espécie de ponte entre dois sujeitos [8].


[1] ARONSON, E., WILSON, T. D., & AKERT, R. M. (2015). Psicologia Social (8th ed.). LTC.

[2] XAVIER, C. R. (2022) O Espectro da Empatia: Perspectivas Conceituais. Curitiba, PR: Juruá Editora.

[3] TITCHENER, E. B. (1909). Lectures on the experimental psychology of the thought-processes. The Macmillan company.

[4] BARON-COHEN, S., & WHEELWRIGHT, S. (2004).The Empathy Quocient: An investigation of adults with Asperger syndrome or high functioning Autism, and normal sex differences. Journal of Autism and Developmental Disorders, 34 (2), 163-175.

[5] ROGERS, C. R. (1977). Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes.

[6] ROGERS, C. R. (1959) A Theory of Therapy, Personality, and Interpersonal Relationships: As Developed in the Client-Centered Framework. In S. Koch (Ed.), Psychology: A Study of a Science. Formulations of the Person and the Social Context. Vol. 3, pp. 184-256. New York: McGraw Hill.

[7] DECETY, J. (2015). The neural pathways, development and functions of empathy. Current Opinion in Behavioral Sciences, 1-6, 3.

[8] TASSINARI, M.; DURANGE, W. (2019). Neurônio da empatia: os fios invisíveis da conectividade humana. In: Empatia: a capacidade de dar luz à dignidade humana. Tassinari, M.; Durange, W. (Orgs.). Curitiba: CRV.

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Elaborado por Magalí T. Longhi