Módulo III - CSA Empatia

Competência Socioafetiva Empatia

A competência socioafetiva empatia (CSA Empatia) é a capacidade individual de compreender a situação afetiva do outro, validar e respeitar as suas necessidades e opiniões interagindo com afeto, apoio e responsabilidade em grupos e contextos diversos através do AVA [1].

A CSA Empatia garante a criação de uma cultura mais positiva na sala de aula virtual, fortalece os relacionamentos formados através das ferramentas de comunicação do ambiente virtual e, como preconizava Carl Rogers e Jean Piaget, incentiva o protagonismo do aluno. Isto é, o professor deixa de ser o detentor absoluto do saber e passa a desenvolver um modelo de ensino centrado no aluno. Desse modo, o professor deve [2]: dar liberdade para a curiosidade do aluno; instigar o interesse em conhecer; facilitar uma aprendizagem experimental que contemple dimensões para além da cognitiva; e ter apreço, aceitação e confiança com relação ao aluno, suas opiniões e seus sentimentos. Por outro lado, alunos empáticos têm: maior engajamento na sala de aula; maior desempenho acadêmico; melhores habilidades de comunicação; relacionamentos mais positivos; menor probabilidade de provocar e participar de bullying; comportamentos menos agressivos; e menos distúrbios emocionais [3].

Rogers [4][5] aponta que entender o outro “como se” fosse ele mesmo, faz com que o outro saiba que está sendo compreendido e respeitado, mesmo que haja uma gama de diferenças de valores, visões de mundo, realidade social, cultural, etc. entre eles. Assim, quando se trata da empatia na educação, propõe-se um espaço de escuta e respeito à diversidade não apenas entre professor e aluno, mas também entre os alunos e outros profissionais da educação [3]. Ou seja, a CSA Empatia pode ser construída em sala de aula e ser mais um dos motores energéticos, como explicou Piaget [6], na construção do conhecimento.

Assim, como construir a CSA Empatia no processo educativo a distância? Em que espaço e quais recursos e métodos podem garantir que os alunos se constituam como sujeitos empáticos? A construção da CSA Empatia depende de “uma ambiência que promova múltiplas interações, possibilidades de diálogo, de reflexão, de construção coletiva entre pessoas diferentes” [7].

Empatia Cognitiva Empatia Social Empatia Afetiva Empatia Tecnológica
Componente relacionado ao interesse e compreensão pela situação do outro. Isto significa que o indivíduo possui alteridade (reconhecimento da individualidade do outro) na forma de entender a situação e compreender as emoções e sentimentos do outro durante as interações no ambiente virtual. Componente que trata da interação com afeto, apoio e responsabilidade. Isto significa valorizar a diversidade e a ética, evitando a disseminação de preconceitos e constrangimentos durante os diálogos ou outras formas de manifestação no ambiente virtual. Componente que conduz a adoção da perspectiva afetiva do outro. Isto significa o sujeito acolher/aceitar a visão de mundo, as motivações e opiniões, respeitando e validando os sentimentos e as necessidades do outro através do ambiente virtual. Componente estreitamente vinculado à empatia cognitiva para compreender as necessidades, preocupações e experiências do outro em relação à tecnologia, importante para empreender vivências, reconhecimento e presença no ambiente virtual.

Atributos Virtuosos de Cada Componente

Escuta Ativa Solidariedade Conciliação Companheirismo
Alteridade Escuta ativa Afetividade Alteridade
Autoconhecimento Reconhecimento Respeito Conhecimento Técnico
Interesse no Outro Responsabilidade Acolhimento Interesse no Outro
Diferentes Visões Diversidade Reconhecimento Flexibilidade
Ponderação Ética Aceitação Generosidade
Discernimento Valorização Interesse Escuta Ativa
Percepção Interesse Necessidade Colaboração
Assimilação Colaboração Motivação Assistência
Identificação Motivação Complacência Observação
Sintonização Assistência Simpatia Solidariedade
Equilibração Observação Compaixão Reciprocidade
Comunicação Assertiva Reciprocidade Generosidade Comunicação Assertiva
Necessidades do outro Companheirismo Subjetividade Compreensão do contexto
Etiqueta na rede Flexibilidade Emoções Responsabilidade
Resolução de conflitos Resolução de conflitos Sentimentos Ética
Trabalho em equipe Trabalho em equipe Estados de ânimo ---
Regulação emocional Respeito Afeição ---
Tomada de perspectiva Comunicação Assertiva Conexão emocional ---
Positividade Simbolicidade Escuta ativa ---
Compreensão do contexto Dinamicidade -- ---

As desvirtudes são os pontos fracos de um indivíduo que o impedem de construir a CSA Empatia. Duas características negativas são opostas ao sujeito empático: o egocentrismo e o narcisismo.

Segundo o Dicionário de Psicologia Dorsch [8], o sujeito egocêntrico, diferente de egoísta, não visa a ação, mas a importância do eu. O egoísmo é sempre egocêntrico, todavia, uma atitude egocêntrica pode ser sem egoísmo ou ser isenta de referência de si mesmo. Deve-se, contudo, esclarecer que Piaget [9] utilizou o termo egocentrismo para designar o pensamento da criança pouco móvel e sem diferenciação perceptiva, que se centra apenas em poucas dimensões da realidade. Ou seja, a criança ainda é incapaz de assumir pontos de vista e modos de consideração dos outros [9]. Portanto, o sujeito egocêntrico analisa e julga somente a partir do seu ponto de vista, sem dar espaço para opiniões de terceiros ou a outras perspectivas, considerando importante somente o que pensa.

O narcisismo é o amor de um indivíduo por si próprio ou por sua própria imagem, uma referência ao mito de Narciso. Isso faz com que o narcisista ultrapasse a autovalorização, dando a si próprio elevada importância. Quando alguém se vê inclinado – o tempo todo – a externar sua auto admiração e exigir a admiração alheia é bem provável ser o sujeito narcisista. Importante salientar que a supervalorização de si próprio geralmente implica em uma desvalorização do outro. Contudo, esse comportamento pode ser considerado normal em crianças e adolescentes, tendendo a diminuir significativamente na fase adulta. Assim, o narcisista é aquele que se considera superior ou, pelo menos, com opiniões e visões mais valiosas que os demais. Suas necessidades passam a ter mais relevância que as necessidades de terceiros.


Para refletir sobre os elementos Conhecimento (saber), Habilidade (saber fazer) e Atitude (saber ser) da CSA Empatia, clique nos botões abaixo:


[1] BEHAR, P. A.; MACHADO, L. R.; LONGHI, M. T. (2022) Competências socioafetivas em ambientes virtuais de aprendizagem: uma discussão do conceito. Revista Novas Tecnologias na Educação, Porto Alegre, v. 20, n. 1, p. 389–398. DOI: 10.22456/1679-1916.126686.

[2] ROGERS, C. R. (1972) Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivross.

[3] INSFRÁN, F (2019) Empatia na educação: buscando a superação de antigos entraves às experiências significativas de aprendizagem. In: Empatia: a capacidade de dar luz à dignidade humana. (Orgs: TASSINARI, M. e DURANGE, W.). Curitiba, PR: CRV.

[4] ROGERS, C. R. (1977) Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes.

[5] ROGERS, C. R. (1959) A Theory of Therapy, Personality, and Interpersonal Relationships: As Developed in the Client-Centered Framework. In S. Koch (Ed.), Psychology: A Study of a Science. Formulations of the Person and the Social Context. Vol. 3, pp. 184-256. New York: McGraw Hill.

[6] PIAGET, J. (2005) Inteligencia y afectividad. Buenos Aires: Aique.

[7] COSTA, N. (2016) Educação e empatia: caminhos para a transformação social. In: A importância da empatia na educação. Yirula, C. P. (org.). São Paulo, SP: Instituto Alana. ISBN: 978-85-99848-06-7.

[8] DORSCH, F.; HÄCKER, H.; STAPF, K.H. Dicionário de psicologia Dorsch. LEÃO, E.C. (Trad.). Petrópolis, RJ: Vozes, 200

[9] PIAGET, Jean. Relações entre a afetividade e a inteligência no desenvolvimento mental da criança. Tradução e organização: Cláudio J. P. Saltini e Doralice B. Cavenaghi. Rio de Janeiro: Wak, 2014.

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Elaborado por Magalí T. Longhi