O conceito de letramento digital é amplamente debatido e possui diferentes significados de acordo com o autor que tenta defini-lo. De acordo com Magda Soares (2002), é importante falar em conceitos de letramento, devido à diversidade de ênfases na caracterização do assunto e à introdução recente do mesmo nas discussões das áreas de letras e educação.
Com a crescente presença das Tecnologias de Informação e Comunicação no cotidiano das pessoas, a definição desse termo volta a ser discutida, mas, ainda de acordo com Soares (2002), pode se tornar mais clara e precisa, já que há a introdução de novas formas de práticas sociais de leitura e de escrita resultantes dessas tecnologias. Essas práticas são propiciadas pelas tecnologias de comunicação eletrônica, sendo apoiadas pelo computador, pela internet e suas ferramentas, e, mais recentemente, por celulares e tablets. Essas novas práticas instituem novas condições, ou seja, o letramento na cibercultura, “conduzem a um estado ou condição diferente daquele a que conduzem as práticas de leitura e de escrita quirográficas e tipográficas, o letramento na cultura do papel.” (Soares, 2002, p.146) Se letramento designa o estado ou condição em que “vivem e interagem indivíduos ou grupos sociais letrados, pode-se supor que as tecnologias de escrita, instrumentos das práticas sociais de leitura e de escrita, desempenham um papel de organização e reorganização desse estado ou condição.” (Soares, 2002, p.148).
De acordo com Buckingham (2010), estudos sobre o letramento digital já são realizados há algum tempo e argumentos a favor de um letramento computacional datam dos anos de 1980. No entanto, assim como o conceito de letramento não é bem definido, o letramento digital passa por esse mesmo problema, uma vez que não se sabe exatamente o seu objetivo, nem suas implicações.
De acordo com o autor, uma noção mais crítica de letramento já estaria sendo estudada há algum tempo por educadores da mídia, ou educomunicadores, na busca de compreensão de fatores e consequências que possam formar uma espécie de letramento midiático (Buckingham, 2003). Essa noção de letramento, de acordo com o autor, possuiria quatro componentes essências: Representação, com determinadas interpretações e seleções da realidade incorporando valores e ideologias nas informações; Língua, na compreensão do funcionamento da língua, de certas formas de comunicação, além da consciência dos códigos; Produção, na noção de quem está comunicando o que e para quem, influências comerciais não visíveis aos olhos; e, Audiência, na consciência de como os usuários acessam aos sites, como são guiados e abordados dentro deles.
Referências:
BUCKINGHAM, David. Cultura Digital, Educação Midiática e o Lugar da Escolarização. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 37-58, set./dez.,2010.
BUCKINGHAM, David. Media Education: Literacy, Learning and Contemporary Culture. Cambridge: Polity, 2003.
SOARES, M. B. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, 2002.