De acordo com, Dornelles (2005), estamos em meio a uma crise da infância, resultando em novos modos de se ver e se tratar as práticas com crianças. A criança passa a ser compreendida como alguém que pode estabelecer e produzir uma rede de práticas sociais, interagindo com outros atores sociais e com a produção de sua cultura (Schneider, 2007). A nova cultura, na qual as crianças estão inseridas, os espaços que as crianças ocupam atualmente, produzem infâncias globalizadas em contato direto com o mundo, atuando em uma cultura cibernética global com base em recursos multimídia. Já em 1995, Green e Bigum apresentavam indícios de que uma nova geração estava emergindo com uma constituição radicalmente diferente das anteriores. E assim, questionaram: “existem alienígenas em nossas salas de aula?” Esses alienígenas não estariam apenas fazendo visita, mas vieram para ficar e estão assumindo o comando. No entanto, quem seriam os alienígenas? Os alunos ou os professores? Ainda no mesmo período, de acordo com Narodowski (1998), estar-se-ia vivendo uma crise da infância, resultando em novos modos de se ver e se tratar as práticas diárias para com as crianças. Dessa forma, para compreender essas questões se faz necessário compreender a emergência de um novo tipo de estudante, com novas necessidades e novas capacidades.
Essa infância é definida por Dornelles como Ciberinfância. Uma infância globalizada, que é produzida nos espaços informatizados, multimídia e das novas tecnologias. São as crianças que constituem uma infância on-line, “daqueles que estão conectados à esfera digital dos computadores, da Internet, dos games, do mouse, do self-service, do controle-remoto, dos joysticks, do zapping” (DORNELLES, 2005, p.80). É essa infância que Narodowski (1998), destacava como a infância hiper-realizada. Para o autor, sobre a infância hiper-realizada recaem todas as possibilidades de acesso às novas tecnologias contemporâneas, dela fazem parte as crianças que reinam sem medo frente à televisão, computadores ou qualquer forma de acesso ao mundo digital. Sobre ela, pode-se compreender como aquela possuidora de todos os bens materiais possíveis numa sociedade capitalista, contemplando uma criança da realidade virtual, que é dominadora dos códigos da modernidade superprotegida, muitas vezes assustadora para os que dela cuidam, por desconhecê-la e não saberem como melhor controlá-la. De acordo Dornelles (2005), essa infância muitas vezes é assustadora e é vista como perigosa, pois ela nos escapa, ou seja, vê-se um perigo nessa infância por ainda não ter se produzido um saber suficiente para controlá-la, ou até mesmo porque não se consegue governá-la.
Dispondo de diversas ferramentas interativas, como os softwares sociais, e fazendo-se presentes na cibercultura, essas crianças estão encontrando novas maneiras de se sociabilizar e de se produzir como sujeitos infantis. Vê-se, assim, a criança como parte da sociedade, com um modo próprio de pensar, relacionando-se e interagindo com membros de seu contexto social, tornando-se atuantes eu seu meio.
Referências:
DORNELLES, L. V. Infâncias que nos escapam: da criança da rua à criança cyber. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
GREEN, Bill & BIGUM, Chris. Alienígenas na sala de aula. In: SILVA, T. T. (org). Alienígenas na sala de aula, Petrópolis, RJ: Vozes, 1995, p. 208.
NARODOWSKI, Mariano. Adeus à Infância (e à escola que a educava). In: Silva Luiz Heron da. A escola cidadã no contexto da Globalização. . Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
SCHNEIDER, D. Planeta ROODA: desenvolvendo arquiteturas pedagógicas para Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Dissertação (mestrado) – universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-graduação em Educação, Porto Alegre, RS, 2007.
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