Os ambientes de ensino e aprendizagem, utilizados tanto na modalidade presencial ou à distância, provocam diversos questionamentos, alguns deles relacionados às relações sociais. A todo o momento surgem investigações sobre possíveis estratégias para a promoção e fortalecimento das relações humanas através de interações sociais nesses espaços, assegurando situações que propiciam a reciprocidade entre seus participantes.
Relembrando a história humana, individual ou coletiva, é possível observar que as relações sociais se formam no convívio. O indivíduo toma consciência e aprende não só nas relações consigo próprio (intrapessoal), mas também em nível social (interpessoal). Ele não é resultado apenas de seu aparato biológico, mas também de suas interações, de sua história e da forma como o mundo é representado em sua cultura.
Você já refletiu sobre a definição de interação social?
Etimologicamente, o termo interação (inter + ação) inclui os conceitos de reciprocidade (isto é, sempre envolve pelo menos dois sujeitos) e de contato, encontro que provoca mudanças nos participantes.
Neste módulo, as interações sociais são abordadas sob a perspectiva Piagetiana. Piaget1 explicou que a interação é um processo complexo de trocas e de significações que desencadeia uma sequência de estados de construção do conhecimento. É caracterizada pela existência de regras sociais, pelos valores coletivos e pelas formas de comunicação para transmitir tais regras e valores. Os valores surgem a partir de uma troca afetiva que o sujeito realiza com o exterior, com objetos ou pessoas². Isto é, os valores emergem da projeção dos sentimentos sobre os objetos e os sujeitos, num processo em que vão sendo organizados cognitivamente2, fundamentando o sistema de valores de cada pessoa.
A interação pode se constituir em nível intrapessoal ou interpessoal. No primeiro, a interação acontece quando se busca o conhecimento anterior para reformulá-lo ou compreender o novo (p. ex.: processos mentais que ocorrem durante a leitura). No segundo, é considerada a relação Sujeito - Objeto na medida em que Objeto pode ser outro sujeito ou qualquer outro elemento do meio. Na interação que se estabelece em nível interpessoal, o contato requer a intermediação do meio físico (ondas sonoras, elétricas, etc.), de forma que a subjetividade de cada participante seja exteriorizada.
Mas e a interação no meio virtual, como ocorre?
A interação mediada por tecnologias digitais pode ser apresentada em duas formas: a interação mútua e a interação reativa. A interação mútua é “caracterizada por relações interdependentes e processos de negociação”3; enquanto que a interação reativa é “limitada por relações determinísticas de estímulo e resposta”3.
Na interação mútua, o foco é a relação social e não os indivíduos que dela participam. Já na interação reativa existe uma clara delimitação de quem é o emissor e o receptor. A relação é unilateral, não havendo liberdade para uma cocriação. Os dois tipos de interação não se estabelecem de forma exclusiva. Nesse sentido, em alguns espaços, a interação mútua e a reativa podem acontecer ao mesmo tempo (por exemplo, em um chat, ao longo de uma conversa com outro, também se interage com a interface do aplicativo, com o mouse e teclado).
Nessa perspectiva, entende-se a interação social em espaços tecnológicos como a possibilidade de os sujeitos interagirem criativamente, numa situação tal que a comunicação possa ter lugar sem que o sujeito sinta-se preso à relação ação-reação. Supõe-se que a interação seja baseada em um diálogo que modifica o sujeito, o outro, suas mensagens e as suas inter-relações.
1 Piaget, J. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973. 2 ARANTES, V. A. Afetividade e Cognição: Rompendo a Dicotomia na educação. Porto/Portugal: Mandruvá, 2003. 3 PRIMO, A. Ferramentas de interação em ambientes educacionais mediados por computador. Educação, v.XXIV, n. 44, p. 127-149, 2008.