Infância em Situação de Rua

Inf�ncia em situa��o de rua

Desafio Infância em Situação de Rua

A expressão “menino de rua” gera controvérsias. Alguns especialistas afirmam que não há “meninos de rua”, mas sim crianças e adolescentes que são levados às ruas. Os grupos que habitam as ruas podem ser crianças que buscam ganhar algum dinheiro para sua família; aquelas que vivem nas ruas e voltam para casa de tempos em tempos; que somente retornam aos seus lares nos finais de semana; e crianças que passam os dias e as noites nas ruas e voltam para casa ocasionalmente (Dreams can be Foundation, 2007).
Em virtude da exclusão social, da busca pela sobrevivência, dos maus tratos e da falta de afeto no meio familiar instala-se a vulnerabilidade social. Assim, as crianças são levadas às ruas pela falta de perspectiva quanto às condições de vida (moradia, alimentação, estudo, lazer), pelo envolvimento com o tráfico de drogas, pela violência doméstica e abuso sexual.

Atividade:

Anote as suas idéias sobre meninos em situação de rua em forma de ficha.  Leia os trechos do texto da autora Maria Filomena Gregori no link abaixo, assista a entrevista do pesquisador Elder Cerqueira e formule 2 questões para discussão com seu grupo, registrando os tópicos de maior importância. Após, faça uma resenha crítica, com um mínimo de 15 linhas, desenvolvendo os tópicos selecionados.

Video entrevista com Elder Cerqueira: ACESSAR VÍDEO

"Por estarem -fora do lugar-, os meninos de rua são tomados como uma espécie de emblema que ilustra, de forma vigorosa e trágica, os dilemas sociais , políticos e morais da sociedade brasileira.O espaço que a mídia nacional e internacional abriu para focalizar essas crianças fez delas, inclusive, representantes da infância pobre do país. Essa visibilidade está tão difundida que estimulou o poder público, governamental e não governamental, a investir recursos significativos para encontrar solções além da elaboração de uma legislação moderna e não discriminatória, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são inúmeras as iniciativas institucionais com propostas alternativas de atendimento - como a educação de rua - que visam este segmento particular.
[...]
a dissolução familiar pode levar ao ato de perambular pela rua, comprometendo moralmente o menor na medida em que ali proliferam vícios que ameaçam a sociedade. Temos então uma ideia que se pauta pela sobre determinação entre a miséria, o abandono familiar e a delinquência.
Se esse é um fenômeno verificado desde tempos remotos, acompanhando progressivamente o adensamento urbano e a pobreza endemica em nosso país , trata-se de saber quais as representações e práticas de intervenção que foram sendo tentadas, de forma a criar uma situação que me parece paradoxal: temos diante de nós um problema que sempre foi objeto de preocupação, de investimentos e políticas, e, no entanto, ele apresenta uma persistância considerável. Uma das razões a explicar a ausência de uma solução definitiva é o fato inegável de esse fenômeno estar articulado é misória, como uma de suas principais consequências sociais.
[...]
Por outro lado, [a criança em situação de rua] é um problema que toca o cerne da cultura ocidental no que se refere à infância e à juventude: essas são categorias que merecem cuidados em todas as culturas, mas, na nossa, temos assistido a um crescente alargamento do período de dependência e a guarda atribuída primordialmente família nuclear. Quando este sistema falha, o problema deve ser equacionado e decidido preferencialmente pelo Estado, mas com participação ativa da sociedade civil. Contudo, mesmo considerando um número expressivo de experiências bem-sucedidas, o destino dessas crianças e jovens sem formação ou convívio regular com as chamadas instituições socializadoras é qualificado como incerto ou, na linguagem do ECA, como estando em situação de risco. [...] É impossível negar a realidade de iniquidade e da pobreza no Brasil e como ela tem um papel fundamental na reprodução do segmento dos meninos e meninas de rua. No entanto, considero especialmente importante evitar explicações causais e buscar compreender as experiências e o universo material e simbólico em que elas estão imersas.
[...]
Emprego o termo viração é tomado do linguajar coloquial referente à prática de se virará para sobreviver como uma noção exemplar para descrever o processo singular das experiências travadas pelos meninos de rua: as diferentes imagens produzidas sobre eles por discursos e ações sociais variados são incorporadas e atualizadas nas relações concretas que eles estabelecem, sem que haja escolha de alguma particular. [...] Eles se viram circulando. A movimentação é constante: eles não se fixam em um lugar, assim como não estabelecem relações muito permanentes.
[...]
Por menino de rua, definiu-se aquele que foi visto quando estava trabalhando em biscates, esmolando, perambulando ou exercendo atividades ilícitas. [...] Em tese, os meninos podem dormir alunas noites na rua, mantendo, contudo, sua moradia junto à família. Essa é uma questão difícil: de fato, na rua na situação dos meninos é imensamente instável e variável. E essa variação implica um esforço diferencial dos organismos de atendimento e, também, uma tarefa mais qualitativa de análise.
[...]
Não é exagerado afirmar que essa trama institucional é mais do que uma malha ou uma rede, passa a alimentar os aspectos singulares das experiências dos meninos de rua: a viração e a circulação. De modo paradoxal, em vez de romper com este circuito e ajudá-los a construir um projeto de futuro, o mau relacionamento entre os agentes de intervenção resulta em uma situação em que o menino é transformado em objeto de disputa, alvo de conflitos. Circulando entre os vários organismos, se virando, ele sobrevive e se protege. Mas está longe de conseguir projetar um caminho de saída da menoridade. Seu destino permanece na circularidade das ações. Parece condenado a ser, para sempre, um menino de rua.

GREGORI, Maria Filomena. Viração: experiências de meninos nas ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 262 p.

O BRASIL EM NÚMEROS

• O Brasil tem uma população de 170 milhões de pessoas;
• 80% da população esta concentrada nas áreas urbanas;
• 49% da população do Brasil tem menos de 25 anos;
• O salário mínimo no Brasil e de R$ 300 (moeda local) cerca de US$ 125. Um dólar e equivalente a aproximadamente 2,4 Reais;
• Estima-se que 47% da população viva abaixo da linha de pobreza;
• Desse total, 61.385,672 são crianças com menos de 19 anos, cujas famílias tem uma renda de menos de US$ 36 por mês;
• Por volta dos 14 anos de idade, quase 80% das crianças não acompanham o ensino (estão atrasadas) ou não freqüentam a escola. Sendo que, ao chegar a idade de 18 anos, esse percentual cresce para 90%;
• Menos de 30% da população sabe ler ou escrever, ou compreender um texto simples.

Fontes: CIESP e IBGE / Dreams can be Foundation (2005)

Leitura Complementar

- Dreams can be Foundation. Disponível em: http://www.dreamscanbe.org Acesso em: 31 ago. 2007.
- Assista ao vídeo "menino de rua": ACESSAR VÍDEO