INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
"Informacional"
passa a ser o atributo da nova forma de organização social, baseada em redes,
em que o processamento e a transmissão da informação tornam-se fontes
fundamentais de produtividade e de poder (Castells,
1999). Na Era Digital o conhecimento é poder, e não apenas mais um
recurso, ao lado dos tradicionais fatores de produção: trabalho, capital e
terra (Drucker, 1994).
As tecnologias disponíveis permitem realizar
o antigo sonho da ubiqüidade, viabilizando, em tempo real, a máxima
descentralização da informação, matéria-prima do trabalho intelectualizado (De Masi, 1999, p. 224). Isto reforça o papel do conhecimento
como substituto definitivo de outros recursos, além de fonte de poder e chave
para a mudança de poder. Entretanto, a Lei da Ubiqüidade ainda não completou
sua ação, existindo uma "linha divisória da informação" tão profunda
quanto o Grand Canyon
(Toffler, 1995, p. 388), porque "o
conhecimento é ainda mais mal distribuído do que as armas e a riqueza"
(op. cit., p. 497). O trabalho requer
aptidões informacionais crescentes; o conhecimento
necessário vai além da capacitação para tarefas específicas, podendo a
redistribuição do conhecimento levar à redistribuição da riqueza. Corroborando
a assertiva, Castells (1999) aponta a morfologia da
rede como uma fonte drástica de reorganização das relações de poder. Toffler (1995, p. 200) destaca "uma das mais
fundamentais e, no entanto, desprezadas relações entre o conhecimento e o poder
na sociedade: o elo entre como um povo organiza seus conceitos e como ele
organiza suas instituições". A maneira de organizar o conhecimento
determina, em regra, a maneira de organizar as pessoas, e vice-versa.
"Quando o conhecimento era considerado especializado e hierárquico, as
empresas eram projetadas para serem especializadas e hierárquicas", com os
cubículos e os canais pré-especificados abafando a inovação. O ambiente atual
apresenta "convulsões provocadas pela surpresa, perturbações, reversões e
turbulências generalizadas", sendo impossível saber com precisão e com
antecedência quem irá precisar de que tipo de informação. Em decorrência, a
informação de que necessitam os profissionais não podem chegar à linha de
frente através dos velhos canais oficiais. Necessita-se de fluxos de
informação mais livres e mais rápidos, como "vias neurais que cortam
os quadrinhos no organograma, de modo que as pessoas possam trocar idéias,
dados, fórmulas, dicas, reflexões, fatos, estratégias, sussurros, gestos e
sorrisos que se revelam essenciais para a eficiência":
"’Quando
você liga as pessoas certas com a informação certa, obtém o valor agregado
extra’, diz Charles Jepson, diretor de marketing de
escritórios da Hewlett-Packard Company, acrescentando
que ‘a informação é o catalisador para efetuar uma mudança em todos os níveis.
É isso que torna seu poder tão assombroso’" (Toffler,
1995, p. 209).
A "ligação da pessoa certa com a
informação certa" está condicionada ao alinhamento adequado entre os
sistemas de informação e a organização. Tapscott
(1997, p. 274) recomenda que se busque:
"alinhamento estratégico (para que as
estratégias das empresas e os planos de tecnologia da informação entrem em
harmonia);
alinhamento
arquitetônico (para que a
infra-estrutura de tecnologia de informação corresponda à infra-estrutura da
empresa) e
alinhamento
organizacional (para que os
recursos humanos da tecnologia da informação estejam localizados dentro da
empresa para maximizar a contribuição dos sistemas de informação à empresa)".
Destacando que uma organização não pode
existir sem informação e sem comunicação, por não se constituir
em mera justaposição de indivíduos e nem se reduzir a uma soma dos meios,
Freitas (1993, p. 31) enfatiza que "são a informação e a comunicação que
possibilitam partilhar e difundir a aprendizagem [...], com a condição de que
haja efetivamente uma união na coleta, na troca, na interpretação
e na utilização das informações", dada a situação de dependência
relacional: "são todos tributários uns dos outros, e suas atividades estão
em interação". "Há uma fusão entre ser informado e participar do
mundo [...] Você não pode ficar realmente informado se não participar; e
não pode realmente participar de modo significativo se não estiver informado"
(Tapscott, 1997, p. 283).
Dentro de uma "comunidade de
interação" em expansão, que transcende níveis e fronteiras interorganizacionais, ocorre um processo que "amplia organizacionalmente o conhecimento criado pelos indivíduos,
cristalizando-o como parte da rede de conhecimentos da organização" [...]
"o conhecimento humano é criado e expandido através da interação social
entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito", em uma transformação
interativa e em espiral, através de quatro modos de conversão do
conhecimento: socialização, externalização,
combinação e internalização (Nonaka
& Takeuchi, 1997, p. 61-103). A espiral da
criação do conhecimento, com a conversão entre conhecimento tácito e
conhecimento explícito, eleva-se dinamicamente do nível individual para os
níveis da equipe, da organização, da categoria profissional e da sociedade,
através de interação mútua e contínua, dela resultando o compartilhamento do
conhecimento tácito, a criação de conceitos, a justificação dos conceitos ante
a missão e os valores do grupo, a construção de arquétipos e a difusão
interativa do conhecimento. O processo tem início no nível individual, sendo
fundamental que o ambiente de trabalho propicie apoio e estímulo à criação do
conhecimento, eis, "o que forma a inteligência da maioria dos homens é
necessariamente sua ocupação ordinária" (Adam Smith 1776, apud De Masi, 1999, p. 14) e "o aprendizado mais poderoso
vem da experiência direta" (Nonaka & Takeuchi, 1997, p. 9). O conhecimento criado pelos
indivíduos é sintetizado e cristalizado pelo grupo, através do diálogo, de
discussões, do compartilhamento de experiências e da observação. Enquanto os
indivíduos criam o conhecimento, a equipe e a organização o sintetizam e
amplificam (Nonaka & Takeuchi,
1997, p. 280).
O papel da informação na
criação do conhecimento e as características da informação e do conhecimento
são sintetizadas no Quadro que segue, elaborado com base nas contribuições de inúmeros autores, sintetizadas
por Nonaka & Takeuchi
(1997, p. 63-8).
Informação |
Conhecimento |
A informação é um meio ou material necessário para extrair e construir o conhecimento. |
O conhecimento é um processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com relação à "verdade". |
É um fluxo de mensagens que afeta o conhecimento, acrescentando-lhe algo ou reestruturando-o. |
É criado pelo fluxo de informação, ancorado nas crenças e compromissos enraizados nos sistemas de valor dos indivíduos. |
Proporciona um novo ponto de vista para a interpretação de eventos ou objetos, tornando visíveis significados antes invisíveis e lançando luz sobre conexões inesperadas. |
É função de uma atitude, perspectiva ou intenção específica. Está relacionado com a ação humana; é sempre o conhecimento "com algum fim". |
Duas
perspectivas: a)
"sintática": volume de informações; b) "semântica": significado. |
Dois tipos de conhecimento:
|
Tanto a informação quanto o conhecimento são
específicos ao contexto e relacionais. Tanto a informação quanto o
conhecimento dependem da situação e são criados de forma dinâmica "por
pessoas que interagem em um determinado contexto histórico e social,
compartilhando informações a partir das quais constróem
o conhecimento social como uma realidade, o que por sua vez influencia seu
julgamento, comportamento e atitudes" (Nonaka
& Takeuchi, 1997, p. 64). A criação do
conhecimento não é simplesmente uma questão de processar informações objetivas.
Os membros da comunidade têm que construir uma rede de conhecimentos com o
mundo exterior, procurando mobilizar o conhecimento tácito dos
participantes externos através de interações sociais. (op. cit., p. 274).
O planejamento
estratégico participativo, implementado com a institucionalização da reflexão
coletiva sobre as transformações em curso e seu impacto na missão e nos
objetivos da instituição que promove cursos a
distância, contribui para ampliar o comprometimento do grupo e para produzir o
alinhamento estratégico das ações/interações
promotoras da aprendizagem.