O QUE É CRIAR?*

               Criar e criar. Sempre que se fala em criatividade, alguém salta na sala e diz “para mim, o mais importante é ser criativo”. Uma pessoa continua: “meu filho é um primor, precisa ver. Tem cada idéia”. Outra retruca, “meu primo, sim. Ele que é criativo ...”

                 Afinal, o que é criatividade? Que potencial é este, escondido dentro de todos nós, que passamos muito tempo tentando desenvolver ou admirando em outras pessoas. Vários autores já contaram muitas parábolas sobre pessoas criativas ou até animais (como a história de Joãozinho e o pé de feijão, ou do Gato de Botas).

                Em síntese, ser criativo é um processo que nasce com a criatura humana. Criar é a uma capacidade que todos temos, independente da classe social, mas interdependente do meio sócio-cultural em que você está inserido. 

                Criatividade nada mais é do que vivenciação. Viver, ora. Há como não viver? Criar é vivenciar e tirar dessa experiência novas respostas, outros caminhos para a ação a seguir.

                 Então, quanto mais velho, mais criativo eu serei??? Talvez, pois o ato de criar depende das vivências. No entanto, apenas a passagem do tempo nem sempre fornece o “feedback” criativo em nossas ações, sendo também importante o modo como as vivenciamos. Pode-se passar a vida respondendo a estímulos de maneira criativa ou apenas reproduzindo padrões. Porém, os processos criativos são mais complexos e estão ligados às linhas da inteligência. Mais exatamente do pensamento, tendo a origem de sua forma plena nos pensamentos divergentes. 

                Vamos olhar isto mais de perto.               

Quadro de Guilford

                 Abaixo mostraremos a estrutura do intelecto segundo Guilford. Analisando suas palavras, entenderemos o que ele quis dizer quando afirmou: “já vimos que é possível organizar os fatores psicomotores que conhecemos numa espécie de sistema. Torna-se cada vez mais claro que as dimensões do intelecto também podem ser organizadas numa estrutura significativa”.

          Intelecto

         /              \

Memória     Pensamento

                    /          |           \

   Cognição          |          Avaliação

                     Produção

                    /                 \

 Convergente          Divergente

               Este quadro é bastante elucidativo para entendermos os processos que acontecem no intelecto humano. Sempre que geramos uma idéia, ela divide-se em duas partes: o pensamento propriamente dito, que é a idéia, e seu “backup”, ou seja, a nossa memória. Ali se depositam todas nossas experiências e referências registradas desde a vida intra-uterina. Alguns autores defendem que arquivamos memórias genéticas ou espirituais, transportadas de outras vidas. Isto, porém, já entra no campo das crenças pessoais.

                Percebemos que o pensamento divide-se em cognição (o conteúdo da nossa idéia), produção (a idéia global e sua execução prática) e a avaliação (estímulos para nossa auto-imagem e auto-estima). A cada pensamento, o ser humano está sempre se avaliando. É um processo permanente, quer você queira ou não. 

                Acontece que, às vezes, essas constantes avaliações nos prejudicam (ao invés de ajudar) quando tornam-se fatores de inibição ou de exclusão das atividades de sala de aula. Entender os motivos de nossas ações fará com que avaliemos melhor cada idéia ou ato. E, principalmente, fortaleceremos a nossa auto- imagem e auto-estima. Não deixe os condicionamentos impedirem que você experimente.

                 A produção, por sua vez, divide-se em dois grandes tipos de pensamento: o convergente e o divergente. O pensamento convergente é o pensamento direto, é a saída lógica (padrão) para os problemas com os quais nos deparamos. Já o pensamento divergente, ou lateral, é o modo único e criativo de pensar. São as possibilidades infinitas da experimentação e vivenciação. É no pensamento divergente que mora a criatividade plena, desenvolvida sempre que procuramos saídas novas para determinadas ações ou reações.

                 Este gráfico nos demonstra a necessidade de um equilíbrio para o desenvolvimento do pensamento. Aponta como são fundamentais o pensamento divergente e a avaliação para os processos de conhecimento real do ser humano e no desenvolvimento de sua criatividade, dando a ele a oportunidade de um pensar único e criativo.

               Pirâmide da Criatividade

 Senso   ß-à Criatividade

Crítico

          #

/|\      ###     /|\

 |      #####     |

 |     #######    |

\|/   #########  \|/

     ###########

   Pensamento lateral

     ou divergente            

                 Como estamos vendo, os processos do pensamento divergente, a criatividade e o senso crítico estão ligados como um triângulo - onde todos os lados são iguais e de igual responsabilidade com o todo. Assim é a criatividade. Para desenvolvê-la plenamente, sem o risco do falso criativo, devemos desenvolver o pensamento lateral e nosso senso crítico.

                 Portanto, quando desenvolvemos a criatividade, melhoramos consideravelmente nossa auto-imagem e auto-estima. Podendo discernir melhor as coisas que são importantes para nós, conseguimos a todo momento gerar idéias novas e únicas, o que é fundamental para nosso desenvolvimento como ser humano.

                 Vamos observar alguns conceitos:

                 Criatividade - capacidade que o ser humano tem de gerar novas idéias, independente da classe sócio-econômica, mas relacionada ao meio social em que vive.

                 Pensamento lateral ou divergente - capacidade de gerar saídas para resolver problemas, situações críticas. É o pensar único e diferente, que nos afirma como indivíduos. É a forma de pensar em diferentes direções, a produção de idéias únicas e de caráter individual.

                 Senso crítico - é o processo de dis­cernimento da realidade e, principalmente, de si mesmo (auto-estima), do que lhe serve (auto-imagem) e de sua relação com o mundo (sociabilidade).

                 Por isso é tão importante ministrarmos aos nossos alunos as experiências com criatividade. Esses jogos que unem arte e movimento conseguem  desenvolver a criatividade plena e o senso crítico de forma incrível. Só eles realmente tornam nossas vivências únicas, individuais, fornecendo bagagem para nossos procedimentos pedagógicos diários.

                 Os jogos criativos e suas sistemáticas lúdicas recriam a realidade, nos oportunizam viver muitas situações e nos preparam para reagirmos na vida de forma pessoal. Se quero ter um senso crítico apurado, tenho que trabalhar a criatividade.

                 Devemos praticar o ato de criatividade e não somente a palavra criatividade. A criança não aprende por imitação, a criança cria por imitação e o professor deve ter “a mente aberta” o suficiente para enfrentar e vencer o inesperado. Todo o exercício deve ser discutido e avaliado. Deve-se permitir que o aluno incorpore melhor os conceitos e que ele dê sua visão do mundo, das coisas da sua vida cotidiana.

                 O importante é você oportunizar que o aluno relacione-se, crie, invente, divirta-se.

* Texto de Max Haetinger                                                                    Voltar