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Presença Social e a Afetividade em AVA

Conforme Piaget (1994) “afetividade" é toda a energia que o sujeito tem. Tudo aquilo que move o ser humano, como necessidades e interesses, por exemplo, é afetividade. Neste sentindo, os próprios sentimentos são “afetividade”. A afetividade é o aspecto energético presente em toda a conduta humana, pois é ela que atribui um valor às atividades e regula a energia empregada nas ações dos sujeitos.

Para Damásio (1996), são os sentimentos e as emoções que constituem a “afetividade”: aquele diz respeito às experiências mentais (interiorizadas) e esse às ações (exteriorizadas). Pode-se externalizar as emoções com o corpo, expressões faciais, entonação da voz, etc.

Para Piaget (2005), a aprendizagem e o afeto constituem as faces da mesma moeda, sendo que neste contexto, o termo “moeda” configura-se enquanto a conduta. Ou seja, a aprendizagem e o afeto caminham juntos, lado a lado, não sendo possível a existência de um sem o outro. Para o autor, não há conduta intelectual que não seja permeada pela afetividade. Neste sentido, os processos de ensino e de aprendizagem não são permeados apenas pelo aspecto cognitivo, mas, também, por uma valorização que se configura enquanto aspecto afetivo. Assim, a afetividade contribui de forma positiva ou negativa para os processos de ensino e de aprendizagem: quando positiva, contribui para o interesse, para a vontade do educando de realizar determinada ação, estimulando-o a construir seus conhecimentos. Já quando negativa, pode apenas prejudicar ou até mesmo impedir que se aprenda algo. Como se percebe, o aspecto afetivo, nos contextos educacionais, é considerado indissociável da cognição (Bastos, 2012). Isso porque todo comportamento está envolto por questões afetivas e cognitivas e, da mesma forma que a cognição, a afetividade também é uma construção.

Sem motivação e/ou interesse não existiriam questionamentos, perguntas por parte dos sujeitos, o que dificultaria a construção dos conhecimentos (Piaget, 1962). Tais interesses são imprescindíveis para os processos educacionais, especialmente quando esse se dá em um Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. Percebe-se a presença e/ou ausência de motivação no sujeito ao analisarmos o desenvolvimento das atividades propostas no AVA:
- através do empenho e da dedicação empregados na realização da tarefa e
- através do envolvimento com o docente e com os colegas, por exemplo.

Isso porque, conforme citado anteriormente, os processos de ensino e de aprendizagem são permeados pela afetividade, independente se esses ocorrem com o professor, com os colegas, com os materiais de estudo ou com o AVA.

Tais indícios configuram-se enquanto indicadores da afetividade do sujeito no AVA por nesse não ter alguns recursos para expressões que há no presencial. Para Bastos (2012), nesses ambientes a comunicação baseia-se em textos, sendo necessário utilizar signos linguísticos diferenciados, o que contribui para a percepção do grau de afetividade dos participantes, já que não há expressão corporal e da fala oral.

Ao considerar as manifestações da afetividade dos alunos, o docente conseguirá reduzir sentimentos de isolamento e/ou distanciamento, contribuindo, assim, para que seus discentes construam e mantenham suas presenças sociais. Tal percepção é importante para fortalecer o sentimento de grupo e a identidade dos integrantes com o mesmo; o que favorece, também, a presença social (Bastos, 2012).

A presença social é entendida como a manifestação e a percepção de como a pessoa interage socialmente em um AVA. Além disso, considera-se, também, presença social como “a manifestação verbal e percepção da afetividade e interatividade dos sujeitos em relação ao grupo e ao ambiente virtual de ensino e aprendizagem.” (BASTOS; BERCH; WIVES, 2011).

Com base em Bastos (2012), a presença social também é entendida como a manifestação e percepção da afetividade dos integrantes em relação ao AVA. Para essa autora, a afetividade do sujeito no AVA pode ser considerada como um indicador do grau da sua presença social no mesmo. Para verificar a afetividade dos integrantes podem-se utilizar ferramentas de comunicação do AVA como e-mails, fóruns e chats, por exemplo. Isso porque a manifestação - e percepção - de afetividade e de PS em AVA acontece, sobretudo, nas trocas discursivas nessas ferramentas. São nesses espaços de interação e de relacionamento que os sentimentos dos sujeitos – sejam eles alunos, professores, tutores ou monitores - se mostram mais explícitos. Isso porque “(...) afetividade compreende unidades de análise denotadoras de comportamentos, opiniões, estados de humor, e informações sobre si.” (BASTOS, 2012).

Referências:

BASTOS, H. P. P. “Marcas Textuais de Presença Social em Fóruns e Chats: Encaminhamentos para desenvolvimento de Ferramenta de Apoio ao Professor”. Proposta de tese de doutorado. Porto Alegre: PPGIE/UFRGS, 2010.

BASTOS, H. P. P. “Presença Plus: Modelo de Identificação de Presença Social como Ferramenta Auxiliar da Tutoria em Ambientes Virtuais de Ensino e Aprendizagem.” Tese de doutorado. Porto Algre: PPGIE/UFRGS, 2012.

BASTOS, H. P. P.; BERCH, M.; WIVES, L. K. “Presença Social e Pertencimento em Fóruns Educacionais: Manifestação e Percepção de Afetividade”. In XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE, Aracaju, SE, Nov. 2011.

DAMÁSIO, A. O Erro de Descartes. São Paulo : Companhia das Letras, 1996.

ESPÍNDOLA, M. A construção da afetividade. Escola do Futuro – Guaratinguetá - SP. Link http://www.espirito.org.br/portal/palestras/piaget/afetividade.html acessado dia 10 de junho de 2012.

PIAGET, J. Inteligencia Y afectividad: Introducción, revisíon y notas de Mario Carretero. Editora AIQUE, 2005. Buenos Aires.

PIAGET, Jean. O Tempo e o Desenvolvimento Intelectual da Criança. In: Piaget. Rio de Janeiro: Forense,1973.